Marina Silva admite que ações contra crise climática são insuficientes e aponta vulnerabilidade do Brasil
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou nesta segunda-feira (23/9) que, embora o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha implementado medidas para enfrentar a crise de seca e os incêndios florestais que assolam o Brasil, essas ações “não foram suficientes”. Durante entrevista ao podcast Café da Manhã, da Folha de S.Paulo, Marina admitiu a necessidade de respostas mais eficazes e destacou a urgência de reconhecer a gravidade da situação climática.
“O que nós estamos descobrindo agora é que [o planejado] não foi suficiente. E ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade ou minimizar a realidade faz parte de uma postura republicana diante da sociedade”, afirmou Marina. A ministra destacou que o mundo, e não apenas o Brasil, está despreparado para lidar com a crise climática, em parte por ignorar as advertências da ciência: “A humanidade tem que chegar à conclusão de que não está preparada e que não está preparada porque não ouviu os reclames da ciência”, completou.
Em um ano marcado por eventos climáticos extremos, como a maior seca dos últimos 75 anos no Brasil e o aumento de incêndios florestais, o presidente Lula anunciou no início de setembro a criação de uma autoridade climática. A medida, uma promessa de campanha, visa fortalecer as políticas de combate às mudanças climáticas e ampliar as punições contra crimes ambientais, como os incêndios florestais.
Marina Silva e o presidente Lula estão em Nova York para participar da Semana do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). A ministra, que participa de encontros voltados para a agenda ambiental, reforçou a importância de ações concretas dos países desenvolvidos no enfrentamento da crise climática. Ela lembrou que, apesar dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, muitos países não têm cumprido com os aportes financeiros prometidos para apoiar nações em desenvolvimento, como o Brasil. “Ser cobrado não é problema. Agora, obviamente que os países desenvolvidos, para cobrar, eles precisam também fazer o aporte dos recursos que ficaram acordados no Acordo de Paris [e que nunca foram feitos]”, afirmou.
A ministra ressaltou que o Brasil é “vítima da mudança climática” e enfrenta uma vulnerabilidade crescente devido a eventos extremos como secas e incêndios. Além disso, grande parte dos focos de incêndio tem origem criminosa. Instituições como o Ibama, o ICMBio e a Polícia Federal, responsáveis pelo combate a esses crimes, têm sido alvos de ataques.
Marina também compartilhou um episódio ocorrido durante uma viagem à Amazônia, quando, ao lado de Lula e de outras autoridades, sobrevoou áreas onde não foram encontrados incêndios. No entanto, ao retornar, puderam observar focos de incêndio da janela do avião. “Houve ali uma tentativa, no meu entendimento, de fazer uma afronta. Estavam passando o presidente, o ministro da Defesa, as autoridades da República”, relatou a ministra.
Ao concluir, Marina reforçou que a “agenda da sustentabilidade” deve ser prioridade, independentemente de questões partidárias, e que a preservação ambiental é fundamental para o futuro do país e do planeta.