Em meio à incerteza quanto à direção da política econômica sob o governo Lula, as despesas com a rolagem da dívida pública devem aumentar significativamente em 2023. De acordo com um relatório sobre a situação fiscal do país divulgado pelo Banco Inter, a previsão é de que as despesas públicas com o pagamento de juros da dívida alcancem R$ 777 bilhões no ano, um recorde histórico. Se essa previsão se confirmar, serão R$ 190,6 bilhões ou 32,5% a mais do que o valor gasto em 2022, de acordo com publicação do jornal O Estado de S. Paulo.
Em termos relativos, a previsão é de que as despesas com juros aumentem de 6% para 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitoria, “é um gasto muito alto.”
Rafaela afirma que a previsão de aumento nas despesas com juros é resultado não só do crescimento do valor da dívida, que deve chegar a R$ 7,2 trilhões ao final de 2022, como também de uma mudança nas expectativas em relação ao adiamento do corte na taxa básica (Selic), que é usada como referência para cerca de 40% dos títulos públicos, como já indicado pelo Banco Central (BC).
Além disso, de acordo com a economista, a emissão de títulos com taxas prefixadas, que representam cerca de 30% do total, agora está muito mais cara, na faixa de 12% ao ano, comparada ao período de auge da pandemia, quando as taxas de juros estavam em seu patamar mais baixo na série histórica. Rafaela afirma que “a percepção de risco está muito elevada.”
Ela acredita que o problema se deve à falta de responsabilidade fiscal do governo, que resulta em déficit nas contas públicas e aumento da dívida, além de estimular artificialmente a demanda, pressionando os preços e levando o BC a manter a taxa básica elevada para controlar a inflação. Ela afirma que “o governo precisa focar no que é realmente preciso fazer para baixar os juros, sem adotar atalhos”, disse a economista ao Estadão.