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Para Lula, a briga com o Banco Central é moeda política contra Bolsonaro

Presidente associa política de juros à recessão prevista por rival


A meta de melhorar a percepção popular sobre a economia colocou a política de juros do Banco Central em rota de colisão com as estratégias do presidente Lula em promover resultados imediatos na sua política econômica.

Criticar a manutenção da taxa de juros alta é uma tentativa de apontar o comando da instituição como inimigo comum da população mais vulnerável e do empresariado, no que o governo tem chamado de “herança maldita” do governo anterior, diminuindo a pressão por entregas de curto prazo.

Setores do governo e dirigentes do partido do presidente, sob influência da ala mais desenvolvimentista, têm estimulado Lula a assumir publicamente, e de maneira permanente, a posição contrária à independência do Banco Central. A primeira estratégia era de que as críticas partissem de representantes do Partido dos Trabalhadores, como tem feito a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, porém, o acirramento dos debates acelerou a participação direta do presidente Lula na disputa com Roberto Campos Neto, diretor-presidente do Banco Central.

Desde o início da gestão, assessores do Planalto divulgam materiais que associam Campos Neto ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro indicando que ele possa se tornar uma ameaça ao projeto político do atual governo. Imagens dele votando com a camisa verde-amarela, textos em comemoração à posse do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, considerado um forte representante conservador e relatos de que Campos Neto participa de grupos de aplicativos de celular que ligados ainda ao ex-presidente.

A situação se agravou na semana passada, quando o ex-presidente Bolsonaro declarou que o país caminha para uma “grande recessão” em 2023, o que levou o Lula a concluir que está aí uma mensagem subliminar de que existe um estreito contato com a autoridade monetária brasileira que havia divulgado um documento sinalizando documento sinalizando viés de alta nos juros em razão das incertezas fiscais e da pressão inflacionária.

No posse do presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloísio Mercadante, na última segunda-feira, 06, o discurso do presidente Lula defendeu que a população e o empresariado pressionem o BC a rever a taxa de juros, culpou “os ricos que perderam a eleição” e sinalizou que, “um dia, o povo pobre pode se cansar de ser pobre e fazer as coisas mudarem neste país.”

O dilema vivido no governo é que o compromisso com a autonomia da instituição foi um dos poucos assumidos por Lula e sua equipe com o mercado financeiro durante a campanha. A promessa foi validada pela própria Gleisi, acompanhada do hoje número 2 do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, em reuniões com empresários e representantes do setor financeiro em abril de 2022.

Foi referendada ainda em diversas ocasiões pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ativo participante de fóruns com o empresariado. Na época, a mensagem foi usada para acalmar os agentes financeiros, incomodados com a ausência de clareza do programa econômico do então candidato do PT ao Planalto.

Da mesma forma, a equipe econômica tem procurado se descolar o discurso ideológico manifestando-se com declarações mais técnicas para o mercado e representantes do setor financeiro. Em conversas setoriais, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e outros setores do goveerno sustentam que se comprometeram com Campos Neto a destravar demandas do Banco Central, como a redução do spread bancário e a liberação do PIX para empréstimos. O foco, de acordo com o ministro, seria melhorar o ambiente de crédito no país.

Esta aproximação com o BC, demostrou-se frágil depois que integrantes do Ministério da Fazenda sentiram-se “traídos” pela ata da reunião do Copom. A crise adiciona mais tensão a um item de curto prazo na agenda da equipe econômica, que é a troca de duas diretorias do BC em fevereiro, entre elas a de Política Monetária. Mesmo que a troca privilegie nomes da confiança do governo, Campos Neto, na avaliação de auxiliares de Lula, manteria a maioria no controle da instituição.

No centro do debate, não existe qualquer sinal que um dos lados está disposto a ceder, tampouco, Campos Neto acene que deixará o cargo antes do fim de seu mandato à frente da instituição. Paralelamente a declarações de cunho político, as providências de atribuição exclusiva da autoridade monetária afetam de forma importante o ambiente de risco fiscal, o que poderia deteriorar as relações antes que a equipe do Ministério da Fazenda apresente as novas regras fiscais pós-teto, o que deve ocorrer em abril, com gordura para aprovação em prazo razoável no Congresso.

 




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