Quadrilha de falsos motoristas de aplicativo faturava 8 milhões por mês
PRF identificou 140 veículos usados por quadrilha do “Uber” clandestino para abordar e extorquir passageiros no aeroporto de Guarulhos
Investigação da Polícia Rodoviária Federal desmonta quadrilha de falsos motoristas de aplicativo que agiam no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Os altos valores são obtidos pelos motoristas clandestinos por meio de golpes, extorsões e sequestros de bagagens feitos durante as viagens. Até o momento, a PRF identificou ao menos 140 veículos usados pela quadrilha.
O superintendente da PRF em São Paulo, Fernando Miranda, conta que o esquema criminoso foi identificado há cerca de um ano e meio e somente no primeiro mês de ações, em setembro de 2021, foram abordados 736 carros suspeitos nas imediações do aeroporto, com 18 apreensões.
“Essa fiscalização nos trouxe muitas informações. Inclusive, nos permitindo afirmar que há uma organização ali trabalhando de maneira ilícita, que lucra entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões por mês, transportando passageiros de uma forma clandestina”, afirma o superintendente.
Quando o esquema foi identificado, os criminosos mantinham uma frota clandestina estacionada em um bolsão, chamado pela quadrilha de “fazendinha”, perto do hangar de uma empresa aérea, nas proximidades do Terminal 3.
Segundo o levantamento da PRF, enquanto os motoristas ilegais aguardavam no estacionamento, outros criminosos – conhecidos como “puxadores” ou “pescadores” – abordavam as vítimas nos desembarques internacionais.
No caso de algum passageiro concordar com a viagem, os motoristas eram acionados, se dirigindo para os terminais. A estratégia era usada, segundo a polícia, para evitar abordagens dentro do aeroporto. Com a intensificação dos trabalhos da PRF, na Rodovia Hélio Smidt, a quadrilha mudou sua forma de ação. Os próprios condutores dos veículos passaram a “pescar” as vítimas, abordando-as nos desembarques internacionais.
Na manhã do dia 5 de março de 2021, três turistas franceses que haviam acabado de desembarcar em Guarulhos foram abordados por um suposto motorista de aplicativo oferecendo uma corrida com desconto até o destino final dos passageiros.
O suspeito exibia nas mãos um celular, no qual constava o símbolo da empresa de transporte por aplicativo Uber. Em inglês, negociou o valor de R$ 80 por uma viagem do aeroporto até a Praça da República, no centro da capital paulista. Os estrangeiros toparam.
Naquele dia, os franceses entraram para a lista de vítimas de uma quadrilha que arrecada cerca de R$ 8 milhões por mês com transporte, segundo apuração feita pelo setor de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com a ajuda de imagens das câmeras do aeroporto.
Ao todo, os franceses tiveram um prejuízo de R$ 2.050,00 por uma corrida pela qual acreditaram que iriam pagar R$ 80,00 quando foram abordados dentro do terminal.
A Uber afirmou que “todas as viagens” precisam ser feitas por meio de seu aplicativo oficial, para que o passageiro tenha informações sobre o motorista, como nome, foto, além de saber o modelo do carro usado.
“Qualquer viagem feita fora desses padrões não é uma viagem de Uber e, portanto, não dispõe das diversas ferramentas de tecnologia e processos de segurança oferecidas pela plataforma”, destacou. O aplicativo acrescentou que “todos os motoristas parceiros” passam por uma verificação de antecedentes criminais antes de terem acesso à plataforma.
A empresa 99 também afirmou que as corridas do app devem ser solicitadas exclusivamente por pessoas cadastradas no aplicativo. “Além de ser proibida pela legislação, usuários que adotem a prática de fazer corridas fora do app não contarão com as funcionalidades de segurança que a companhia oferece”, alertou.