Deus, eu e o deserto
O deserto chega até você. Não é uma escolha pessoal, até porque, geralmente, nossas orações são para fugir desse lugar. Ninguém pede: “- Deus, coloque-me num deserto!”. Contudo, quem nos conduz até lá, segundo as Escrituras, é o mesmo Deus que diz: “Filho amado, em quem me agrado.”
Ao deserto Jesus é conduzido pelo Espírito, a Ruah de Deus. Faz parte da geografia da vida, faz parte do tempo que o Pai decide conduzir seu filho. Mas o deserto que Deus conduz seus filhos é diferente dos desertos humanos. É injusto chamar de “deserto” o que na verdade é o inferno dos homens, resultantes da ganância, desigualdade, maldade e perversidade. Homens colocam semelhantes no “inferno” porque são maus, Deus nos conduz ao deserto porque nos ama. Isso faz toda diferença.
Lá, onde Deus conduz seus filhos, Jesus encara o opositor, o pai da mentira, aquele que chamamos de Diabo. Ele nega a necessidade do deserto. Ele busca facilitar a vida do Filho, incentivando Jesus a fazer o que ele pudesse para acabar com o tempo de escassez.
Mas Jesus nega! Soube dizer não. Soube abrir mão da potência de fazer e ficar com a “palavra que sai da boca de Deus”. Jesus resiste à tentação implícita nas demais tentações: fugir dos caminhos de Deus. O Filho amado espera pacientemente pelo tempo, pelo processo e pelo modo dos caminhos do Senhor.
Quando escolhemos seguir a Jesus no deserto, crescemos, amadurecemos e nos tornamos plenos da vida de Cristo. A partir de então, nossa vida não se fundamenta mais sobre o que fazemos, o que os outros dizem de nós, ou o que possuímos. Agora, é sobre o que Deus diz sobre mim, é sobre ser e ser filho amado de Deus.
Quem vive assim, entra em desertos, encara feras, mas também encontra muita vida. Passa por provações e vive de provisões. “E os anjos o serviram”.
Tem um deserto, o Atacama, no Chile, um dos mais áridos do mundo que, recentemente, se encheu de flores e transformou-se num dos maiores jardins do mundo. Um jardim sem jardineiro. Floresceu a partir de fenômenos que, de tempos em tempos, se alinham, e colaboram para o florescimento de sementes, brotos, micro-organismos e proporcionam uma das vistas mais belas do mundo. Tem muita vida no deserto.
A experiência hebraica nos mostra a vida de pessoas que transformaram sua experiência de deserto em poesias proféticas. Uma delas é Isaías. Sugiro que leia o capítulo 35 do seu livro. Uma declaração de que desertos não apenas florescem, mas tornam-se fonte de mananciais que saciam multidões, que curam feridos, que devolvem esperanças para quem havia perdido.
O convite da Quaresma de Jesus é para andar com ele, adentrar desertos, ser fiel Aquele te ama, respeitar os processos Dele e ver os desertos florescerem. Deus te abençoe e te conduza nessa caminhada.