Economia

Roberto Campos Neto justifica interrupção na queda da taxa de juros por “ruídos” econômicos


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou nesta terça-feira, 2, que a decisão de interromper o ciclo de reduções na taxa de juros foi motivada por “ruídos” relacionados às expectativas sobre a trajetória fiscal e a política monetária do Brasil.

“Isso (queda de juros) teve muito mais a ver com muitos ruídos que criamos do que com os fundamentos. E os ruídos estão relacionados a duas coisas, uma é a expectativa na trajetória da política fiscal e a outra é a expectativa sobre o futuro da política monetária. Quando tivemos esses dois ao mesmo tempo, isso criou incerteza suficiente para nós“, afirmou Campos Neto durante sua participação no Fórum sobre Bancos Centrais, promovido pelo Banco Central Europeu (BCE) em Portugal.

Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano, após sete cortes consecutivos iniciados em agosto do ano anterior, quando a taxa estava em 13,75%. A decisão de interromper o ciclo de quedas foi contrária ao desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem criticando a decisão do banco e afirma “não ver explicação” para manter a Selic nesse patamar.

Campos Neto destacou que esses “ruídos” surgiram do desalinhamento entre os dados fiscais e as expectativas de melhoria dos indicadores econômicos. “Precisávamos interromper e ver como podemos consertar as expectativas e nos comunicar melhor para que possamos eliminar esses ruídos, porque existe uma grande desconexão com os dados atuais, tanto os dados fiscais quanto os de inflação e a expectativa. Então, o que aconteceu no Brasil é que a expectativa começou a se ancorar, mesmo que os dados atuais estejam vindo conforme o esperado“, completou ele.

De acordo com reportagem do *O Globo*, a ata da reunião, publicada dois dias após o encontro, indicou que a taxa básica de juros não deve cair tão cedo diante da deterioração do cenário observado pelo comitê para a inflação, como o cenário externo “adverso” e a atividade econômica mais forte. Além disso, reafirmou a necessidade de se manter uma “política fiscal crível”.

Campos Neto enfatizou a importância de estabilizar as expectativas do mercado e alinhar a comunicação do Banco Central com os dados reais da economia. A manutenção da taxa de juros visa também a proteção contra uma possível escalada inflacionária, que poderia ser exacerbada por um cenário global incerto e uma atividade econômica doméstica aquecida.

Analistas do mercado financeiro destacam que a credibilidade da política fiscal é crucial para a confiança dos investidores e a estabilidade econômica a longo prazo. A postura do Banco Central é vista como um esforço para consolidar essa credibilidade e garantir que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas.

Por outro lado, a pressão política para a redução dos juros deve continuar, especialmente por parte do governo federal, que busca estimular o crescimento econômico através de custos de financiamento mais baixos. A divergência entre as prioridades políticas e a política monetária do Banco Central pode gerar debates intensos nos próximos meses, testando a independência da autoridade monetária.




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