Quebra de sigilos de Carlos Bolsonaro descarta envolvimento no Caso Marielle Franco
O vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi alvo de uma quebra de sigilo telefônico e telemático pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no inquérito que investigou os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).
Apesar de a investigação não ter encontrado indícios do envolvimento de Carlos no crime, as interceptações revelaram uma rede de contas de e-mail e redes sociais vinculadas ao vereador, bem como sua movimentação política. Carlos se tornou suspeito devido a uma discussão que teve com um assessor de Marielle em maio de 2017, dez meses antes do homicídio.
Conforme depoimentos, o assessor de Marielle estava apresentando a Câmara a amigos quando apontou para o gabinete de Carlos e afirmou que ali seria a “ala fascista” do Legislativo carioca. O vereador ouviu e confrontou o funcionário, o que resultou numa discussão que envolveu também Marielle.
A quebra de sigilo telemática, solicitada pelo delegado Daniel Rosa em dezembro de 2019, visou 21 aparelhos celulares e 11 números de telefone indicados pelas operadoras em nome de Carlos, além de contas vinculadas a ele no Google e na Apple.
Os dados, abrangendo de janeiro de 2017 até a data da decisão em janeiro de 2020, foram autorizados pelo juiz Gustavo Kalil, que também permitiu a interceptação telefônica de três números associados a Carlos. Os relatórios das quebras não encontraram nada relacionado a Marielle, mas descreveram parte da movimentação política do filho do ex-presidente.
A investigação revelou quatro e-mails vinculados a Carlos, um deles contendo uma foto de uma folha de papel com login e senha de mais de 70 perfis de e-mail, YouTube, Twitter, blogs, entre outros serviços. A imagem estava borrada, dificultando a identificação precisa dos perfis.
Relatórios de interceptação telefônica mostraram que um dos telefones em nome de Carlos era usado por Thiago Medeiros da Silva, assessor do vereador na Câmara Municipal. Em um diálogo interceptado, ele orienta um homem, identificado apenas como “Magrelo”, a não participar de um evento do Aliança pelo Brasil, sigla que Bolsonaro tentou criar antes das eleições de 2022. A interceptação durou 15 dias, de 24 de janeiro a 7 de fevereiro, sem renovação da medida cautelar.
A investigação sobre Carlos ocorreu após a polícia descartar o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no caso. Bolsonaro foi incluído no inquérito após a apreensão de uma planilha de controle de entrada e saída de visitantes do Condomínio Vivendas da Barra, onde ele residia e tinha como vizinho o ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle.
A tabela mostrava que o ex-PM Élcio Queiroz, outro réu confesso na participação do homicídio, foi autorizado a entrar no condomínio no dia do crime por alguém da casa de Bolsonaro. As investigações indicam que Élcio e Lessa partiram dali para cometer o assassinato. Em depoimento, um porteiro do condomínio afirmou que a liberação foi feita pelo próprio ex-presidente.
Posteriormente, a investigação demonstrou que o porteiro errou ao indicar a casa de Bolsonaro como responsável pela liberação de Élcio. Em novo depoimento, ele afirmou ter se equivocado devido ao nervosismo ao falar sobre o suposto envolvimento do ex-presidente.
Seis anos após o crime, a Polícia Federal apontou o conselheiro do TCE-RJ, Domingos Brazão, e o deputado Chiquinho Brazão (sem partido) como os mandantes do crime. O STF (Supremo Tribunal Federal) tornou os irmãos réus pelo homicídio de Marielle e seu motorista Anderson Gomes.