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Lula convoca reunião para discutir alta do dólar


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atribuir a alta do dólar a uma “especulação contra o real”, após a moeda americana fechar a segunda-feira, 1º, a R$ 5,65, a maior cotação desde 10 de janeiro de 2022. Em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA), nesta terça-feira, 3, Lula afirmou que fará uma reunião em Brasília na quarta-feira, 3, para discutir a suposta especulação contra o real, que ele acredita ser responsável pela alta no dólar.

“É um absurdo. Veja, obviamente, me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real neste País”, declarou o presidente. O desempenho do câmbio tem refletido o discurso adotado por Lula nas últimas semanas.

Só no último mês, o dólar subiu 7,32% – em 2024, a alta é de 16,11%. No início de junho, a moeda estava cotada em R$ 5,23 e subiu continuamente após falas de Lula sobre Roberto Campos Neto, autonomia do Banco Central e gastos públicos. O discurso intervencionista não agradou os investidores, que ainda lidam com incertezas externas, como a taxa de juros dos Estados Unidos.

A alta do câmbio é apenas um dos efeitos imediatos dessa estratégia, impactando o planejamento das empresas e pressionando a inflação. O resultado pode ser o oposto do desejado por Lula, que é a redução da taxa de juros. Para Lula, no entanto, “não é normal o que está acontecendo”. Ele afirmou que fará uma reunião em Brasília para que o governo defina como agir em relação à suposta especulação contra o real.

“Temos de fazer alguma coisa. Eu não posso falar aqui o que é possível fazer, porque, se não, eu estaria alertando os meus adversários”, declarou Lula.

O real tem apresentado o pior desempenho entre seus pares latino-americanos. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou acreditar que o câmbio se acomodará e que a situação do dólar se reverterá à medida que os processos de decisão sobre gastos do governo forem concluídos. No mercado, a expectativa é diferente. Segundo o Boletim Focus desta semana, economistas elevaram as projeções de cotação do dólar para o fim deste ano e para 2024, com a previsão subindo de R$ 5,15 para R$ 5,20.

Lula voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a alta do dólar. Ele afirmou que Campos Neto tem viés político e que esse perfil não deveria dirigir a instituição.

“Eu acho que a minha visão sobre o Banco Central não é uma visão teórica, é uma visão de um presidente que teve um Banco Central sob o meu domínio durante oito anos e com total autonomia”, disse Lula. Ele defendeu a prerrogativa do presidente da República de indicar o dirigente do Banco Central.

“A gente não indica essa pessoa para fazer o que a gente quer não, porque as empresas têm diretoria, as empresas têm conselho, e o Banco Central tem uma função”, disse. Lula acrescentou: “Agora, o que não dá é você ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político. Definitivamente, eu acho que ele tem viés político. Agora, veja, eu não posso fazer nada, porque ele é o presidente do Banco Central, ele tem um mandato, ele foi eleito pelo Senado, eu tenho de esperar ele terminar o mandato e indicar alguém”.

Lula reafirmou sua crença no Banco Central “funcionando de forma correta e com autonomia” e com um presidente que não esteja vulnerável a pressões políticas, mas salientou que a instituição “não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado”.




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