Economia

Banco Central alerta Governo Lula na ata do Copom e interrompe cortes da Selic


O Banco Central enviou diversos recados ao governo Lula na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (25), após a interrupção do corte da Selic em 10,5%, decisão tomada por unanimidade na última semana. No momento, não há sinais de novas reduções iminentes da taxa Selic, que só voltarão a ocorrer após um “firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

A ata abandonou o chamado “guidance”, ou indicação clara sobre o que o Banco Central fará no futuro, abrindo a possibilidade até de um aumento da Selic, caso o cenário piore significativamente nos próximos meses. Segundo um analista de mercado, o Copom está “dependente” dos dados para definir os próximos passos.

A política monetária ficou mais desafiadora com o aumento da estimativa feita pelo Banco Central sobre a taxa neutra de juros, de 4,5% para 4,75%. Isso indica que a economia brasileira perdeu dinamismo e precisará de uma Selic mais alta para alcançar a meta de inflação de 3%. Entre as causas apontadas pelo Banco Central estão a incerteza sobre a dívida pública e o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais”, recados direcionados tanto ao Executivo quanto ao Legislativo.

A indicação é de que a Selic deve se manter “contracionista” por tempo suficiente até que o cenário melhore. “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas,” afirmou o Banco Central.

O Banco Central classificou o mercado de trabalho como “apertado”, sugerindo pressões sobre a inflação de serviços. Os serviços foram tema de “muito escrutínio” por parte dos diretores do banco e terão papel “preponderante” para que a inflação volte à meta.

O fim dos cortes da Selic gerou novas críticas do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A decisão unânime, no entanto, favoreceu Campos Neto, já que os quatro diretores indicados por Lula acompanharam a decisão, incluindo Gabriel Galípolo, cotado para presidir o Banco Central ao término do mandato de Campos Neto em dezembro.

Lula ainda não definiu o novo presidente do Banco Central. Aliados próximos confirmam que Galípolo é o principal cotado, mas a irritação de Lula com o fim dos cortes da Selic pode mudar essa percepção. Galípolo precisa demonstrar independência em relação ao governo e seguir critérios técnicos para seu voto, pois, do contrário, as expectativas de inflação poderiam piorar.

Enquanto Lula não define o novo nome, o mercado financeiro continua a considerar esse fator de risco em suas projeções.




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