Recém-nomeados da Abin supostamente foram usados para vincular magistrados do STF ao PCC
Segundo a Polícia Federal, servidores recém-integrados à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foram supostamente envolvidos em atividades de espionagem ilegais sob o governo de Jair Bolsonaro. Segundo as investigações, esses agentes estariam no centro de um esquema que visava associar figuras do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A Polícia Federal (PF) aponta que os novos agentes da Abin eram compelidos a usar o software israelense FirstMile para rastrear indivíduos designados por membros da PF ligados à liderança da Abin de 2019 a 2022. Esse cenário sugere que a alta cúpula da Abin durante o Governo Bolsonaro supostamente explorou a condição vulnerável dos novatos, ainda em estágio probatório, para realizar consultas ilegais.
Um episódio de destaque nas acusações de espionagem ilegal envolve a tentativa de conectar os ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, à advogada Nicole Fabre, ligada à ONG Anjos da Liberdade. Fabre era conhecida por sua oposição a uma medida do Ministério da Justiça que restringia encontros presenciais entre advogados e presos em instituições federais. A chamada “Abin paralela” teria, portanto, mirado em disseminar desinformação contra os juízes, insinuando uma relação entre o PCC e o STF.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), baseando-se em informações da PF, apontou que grande parte das buscas no FirstMile foi realizada por agentes recém-chegados à Abin, contrariando os protocolos estabelecidos pela agência. Essas ações ocorriam muitas vezes sem ordens formais, visando ocultar evidências das práticas ilícitas.
Além disso, a PF identificou servidores que teriam realizado buscas no FirstMile como parte desse esquema de espionagem. Entre os implicados, três foram aprovados no último concurso da Abin, em 2018. Ricardo Wright Minussi Macedo, assessor do senador Alan Rick, é acusado de elaborar um relatório falso baseado nos dados obtidos ilegalmente.
Recentemente, a PF executou mandados de busca e apreensão, mirando ex-diretores da Abin e figuras próximas a Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, suspeitas de participação no esquema de espionagem.
Até o momento, os agentes da Abin mencionados não responderam aos pedidos de comentário da reportagem. O senador Alan Rick, por sua vez, repudiou qualquer tentativa de associá-lo a atividades ilícitas, reiterando seu compromisso com o respeito às prerrogativas de cada poder.