Evento do Planalto sobre 08/01 provoca tensão entre presidência e Forças Armadas
A convocação do presidente Lula (PT) para um ato em memória aos ataques de 8 de janeiro gerou apreensão entre oficiais militares, segundo relatos ao jornal Folha de São Paulo. Eles apontaram preocupação de que o evento possa reacender críticas relacionadas à ligação dos militares com o governo de Jair Bolsonaro (PL) e a tolerância dos ex-comandantes com acampamentos golpistas.
Os atuais comandantes das Forças Armadas questionaram o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, sobre a pertinência de sua presença no evento no Senado Federal, programado para a tarde de segunda-feira (8). O ato, descrito como tendo um caráter político, deverá contar com cerca de 500 convidados, incluindo ministros de Estado, governadores e outras lideranças.
A discussão sobre a participação dos comandantes na cerimônia ocorreu em um almoço com o ministro Múcio, onde os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica manifestaram suas objeções. Múcio enfatizou a importância da presença deles, atendendo a um convite formal de Lula, em conjunto com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF, Luís Roberto Barroso.
A superação desse impasse, contudo, não elimina o receio de que o evento Democracia Inabalada possa reabrir feridas e tensões entre militares e governo. A relação entre Lula e as Forças Armadas foi marcada por desconfianças desde a transição, agravadas pela percepção de que altos oficiais estiveram alinhados com o projeto político de Bolsonaro.
Lula já sinalizou sua visão de que houve envolvimento de militares nos ataques de 8 de janeiro, classificando-os como um “começo de golpe de Estado”. Ele enfatizou que membros das Forças Armadas interessados em política devem abandonar suas funções militares.
A preocupação no meio militar se estende ao ressurgimento de movimentos como o Sem Anistia, que exige punição para os participantes dos ataques, incluindo militares. Há também apreensão sobre reações de militares da reserva e sobre propostas no Congresso para restringir as atribuições militares e alterar o artigo 142 da Constituição.
Enquanto as investigações dos ataques focam nos vândalos, incitadores e financiadores, altos oficiais das Forças Armadas permanecem sem responsabilização formal, apesar de algumas vozes do Executivo e Judiciário os considerarem omissos. O Exército, em nota recente, mencionou punições a dois militares e a abertura de processos administrativos e inquéritos policiais militares, incluindo a condenação do coronel da reserva Adriano Camargo Testoni por postagens ofensivas.