“Lula age como se estivesse na reta final de seu mandato”, diz editorial do Estadão
O governo de Lula da Silva está em seu centésimo dia e já dá sinais evidentes de envelhecimento acelerado. O presidente parece mais preocupado em criar fatos que lhe garantam vantagens eleitorais do que em tomar decisões duras e impopulares, como qualquer governo responsável faria. Além disso, a base governista parece frágil e pouco confiável diante de um Congresso conservador.
Segundo o Estadão, mesmo com muitos “otimistas” argumentando arduamente que o governo de Lula é melhor do que o de Jair Bolsonaro, essa vantagem não é realmente perceptível. Esses “otimistas” apontam Bolsonaro como o responsável pela putrefação moral da política, pela desmoralização da República e pela ruína de áreas cruciais para o país, como saúde e educação. Mas a a realidade é que o governo de Lula poderia ser efetivamente melhor se a disposição de construir fosse tão grande quanto a de desmontar o que foi feito no no governo anterior.
Os retrocessos do governo Lula são notáveis, especialmente em relação aos avanços obtidos na gestão de Michel Temer, frequentemente chamado de “golpista”. Movido por esse espírito de vingança, Lula avalizou o desmonte do Marco do Saneamento, avançou sobre a Lei das Estatais, mandou parar a reforma do ensino médio, ameaçou rever a reforma trabalhista, fustigou a Petrobras a abandonar as políticas e práticas administrativas adotadas para salvá-la depois da destruição promovida pelos petistas, e detonou o teto de gastos criado no governo Temer para conter a sangria das contas públicas após a passagem de Dilma pelo poder.
Embora o governo de Lula tenha elaborado uma proposta de regime fiscal para tentar manter a solvência das contas públicas, a maior oposição ao projeto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não parte da oposição, mas do próprio PT. Isso indica que o ministro pode não ter forças para lutar contra “opositores” cujo grande poder decorre da pequena distância que os separa dos ouvidos de Lula.