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União Brasil entra em crise sobre continuar na base governista ou ser independente

Proposta de nova federação de partidos com União Brasil, Progressistas e Avante resultaria na maior bancada na Câmara com 115 deputados


Dono da terceira maior bancada na Câmara, com 59 deputados, o União Brasil recebeu três ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda resiste em integrar oficialmente a base aliada no Congresso. A participação do partido no governo Lula desencadeou uma crise interna que ameaça interditar, na prática, o apoio da bancada à agenda parlamentar do Executivo.

A nomeação do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (MA), da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (RJ) e do ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PDT-AP), provocou divergência em parte da direção da legenda. Góes, apesar de não ser filiado ao União, foi indicado por um dos principais líderes da sigla, o senador Davi Alcolumbre (AP).

Resultado da fusão entre o DEM e o PSL, o partido negocia uma federação com o Avante e o Progressistas, sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Se a federação se tornar realidade, o partido ampliará decisivamente sua presença na Câmara, aglutinando em uma representação com 115 deputados. Atualmente, o PL detém a maior bancada da Casa, com 99 parlamentares.

Todavia, persiste uma exigência legal que só autoriza uma nova federação após cinco anos do registo do partido na Justiça Eleitoral. Mas este novo cenário de “independência” já preocupa a articulação política da base aliada e projeta mais dificuldades para a governabilidade do Palácio do Planalto.

O aumento da “crise” no União Brasil deve ganhar novos contornos na reunião da bancada prevista para os próximos dias. O deputado Danilo Forte (CE) disse que irá apresentar um manifesto defendendo a independência da legenda.

“Nós, os deputados e senadores do União Brasil, não podemos nos relegar à placidez diante deste cenário. É preciso compromisso e serenidade para fazer política não pelo caminho da submissão, mas pelo caminho da construção com as diversas correntes políticas deste país”, diz o texto. “Cientes da responsabilidade e da sensibilidade do momento atual, reafirmamos que teremos uma postura de independência em relação ao atual executivo federal. É necessário sermos respeitosos nas divergências, responsáveis na oposição e, sobretudo, críticos enquanto favoráveis ao governo”, conclui o documento.

Para a base governista, pautas emergenciais como a criação de nova âncora fiscal, a reforma tributária e a proposta de emenda à Constituição (PEC) que reformula o artigo 142 da Constituição, alterando o papel das Forças Armadas, são considerados “prova de fogo” de governabilidade para Lula.

A definição dos Ministérios, eleições para as mesas diretoras e disputa de cargos no segundo escalão, trouxeram a público as divergências internas entre os grupos oriundos do DEM/PFL com outro grupo originário do PSL. Muitos parlamentares do partido não concordaram com a postura do presidente Luciano Bivar, apontado como o articulador de cargos na atual gestão, sem o consentimento do conjunto de integrantes da sigla.

O deputado Mendonça Filho (PE), declarou que “não há sintonia entre o que foi negociado na cúpula e o sentimento da bancada. Não creio que o Lula possa contar com os votos do União Brasil na Câmara”. O parlamentar ainda comentou sobre a federação que se deseja formar com o PP e o Avante, “no meio de uma guerra interna como essa, como vamos nos juntar em uma federação se nem digerimos ainda a fusão com o PSL? ”

Outros deputados das antigas legendas DEM/PFL, não aceitam que Bivar, em conjunto com Alcolumbre tenham negociados cargos com Lula à revelia da bancada e contam com a posição de ACM Neto, secretário-geral do União Brasil para assumir uma atitude mais combativa sobre o que denominam de “adesismo” da legenda.

Para o ex-senador José Agripino, vice-presidente do União Brasil, Bivar negociou com o Planalto sem aprovação de ACM Neto. “A maioria do União Brasil é centrista e não vai fazer parte de forma aderente ao governo. A participação nos três ministérios não determina que o partido esteja na base do Lula”, disse Agripino.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, falou sobre a falta de entrega do União Brasil diante do espaço dado à legenda e pressiona o governo para desalojar o partido. É preciso um “freio de arrumação” na relação do governo com o União Brasil, porque apesar de contemplada com três pastas, a legenda “não está fazendo entregas”, declarou Gleisi.




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