Trabalhador nos EUA economiza com home office, mas municípios deixam de arrecadar
Em Washington, os trabalhadores deixam de gastar US$ 4.051 (R$ 21 mil) por ano em refeições, compras e entretenimento próximo ao trabalho. Em Nova York, a economia chega a US$ 4.661 (R$ 24 mil).
O trabalho híbrido tem se consolidado como o formato que a maioria dos trabalhadores exercem suas atividades laborais, neste momento pós-pandêmico. Segundo os dados do WFH Research, o relatório mensal sobre o trabalho remoto, na capital norte-americana, Washington, houve 37% de redução de dias trabalhados no escritório. Nova York teve 32,9%.
Segundo a prefeitura, um quarto dos trabalhadores de Washington são empregados do governo federal, que ocupa um terço dos escritórios da cidade que é a mais afetada pelo home office dentre as regiões mais populosas do país. Antes da pandemia, apenas 3% dos trabalhadores federais tinham empregos remotos.
No seu discurso de posse, ao assumir o terceiro mandato como prefeita de Washington, em janeiro deste ano, Muriel Bowser fez um alerta ao governo Joe Biden: “o trabalho remoto está matando a capital dos EUA”.
Em Washington, os trabalhadores em média deixam de gastar US$ 4.051 (R$ 21 mil) por ano em refeições, compras e entretenimento próximo ao local de trabalho. Em Nova York, a cidade mais cara do país, a economia chega a US$ 4.661 (R$ 24 mil). Em uma cidade com esse tamanho, a economia por trabalhador significa que US$ 12 bilhões deixaram de ser gastos nas imediações do escritório.
Este foi o alerta da prefeita Bowser e outros governantes municipais pelos Estados Unidos engrossam o coro. Só em Washington, 48 restaurantes foram fechados em 2022, segundo a associação do setor, mesmo com os auxílios do governo.
Com boa parte do funcionalismo público ainda trabalhando de maneira remota, as regiões centrais da capital americana nunca se recuperaram do choque da Covid-19 e permanecem esvaziadas. Com isso, bares e restaurantes fecharam, cafés reduziram o horário de funcionamento e a prefeitura se preocupa com a capacidade de arrecadação.
Faltou combinar com os empregados. Um estudo do home office conduzido por pesquisadores das universidades de Stanford, de Chicago e do Instituto Tecnológico Autônomo do México nas grandes cidades americanas, aponta que os trabalhadores querem é ficar mais dias longe do escritório.
Parlamentares da Câmara Municipal de Washington propuseram, no mês passado, um projeto de lei para obrigar os funcionários federais a voltarem presencialmente para os escritórios, em até 30 dias.
Para a prefeitura, se os prédios não forem reocupados, o ideal é transformá-los em habitação para não tornar o centro uma zona morta. “Converter escritórios em habitação é a chave para desbloquear o potencial de um centro reimaginado, mais vibrante”, afirmou Muriel, que tem a meta de levar 100 mil moradores para a região.
Em Nova York, o prefeito Eric Adams foi outro que insistiu para que os trabalhadores voltassem aos escritórios. “Você não pode ficar de pijamas em casa o dia todo. Não é isso que somos enquanto cidade”, disse em fevereiro do ano passado, ao dizer que o fim do home office era vital para que a economia da cidade se recuperasse.
Se até 2019 apenas 4,7% do trabalho era feito de casa, hoje mais de um quarto dos americanos cumprem jornada nessa modalidade. Em janeiro, 27,2% dos dias trabalhados cumpridos foram de forma remota, segundo a pesquisa WFH.
O nível mais alto na pesquisa se deu no primeiro levantamento, em maio de 2020, ainda no começo da pandemia, com 61,5% do trabalho sendo feito de forma remota. Entre 2021 e meados de 2022 essa fatia oscilou entre 30% e 40%, e desde agosto do ano passado está abaixo de 30%.
Apenas 6 em cada 10 trabalhadores americanos estão trabalhando completamente de maneira presencial, segundo o estudo. De maneira híbrida, que mistura dias de casa e dias do escritório, estão 28%. E totalmente remotos estão 12,7% dos trabalhadores. Os empregadores se mostram abertos a esse regime híbrido (na média o pleito é trabalhar 2,2 dias de casa, segundo o estudo).
“A pandemia ensinou que muitos trabalhos podem ser feitos de maneira efetiva ao menos parcialmente de casa, e isso é algo que você não consegue mais reverter”. O trabalho híbrido é mais popular por dois componentes. Primeiro há a parte do trabalho que você consegue fazer a partir de qualquer computador. Depois há o componente da interação com colegas, e não há substituto para a socialização com colegas na realização de certos trabalhos”, afirma Jose Maria Barrero, professor do Instituto Tecnológico Autônomo do México.
Barrero defende que é justamente o trabalho remoto não vai matar as cidades americanas justamente porque o trabalho híbrido deve ser a modalidade mais popular, mas afirma que “é preciso que governantes criem mecanismos de atração das pessoas para os centros das cidades por outros motivos, que não estritamente relacionados ao trabalho, como lazer, por exemplo”.
Outro levantamento, da empresa de segurança Kastle, que monitora a ocupação de empresas semanalmente, mostra que a presença varia conforme o dia da semana. Às sextas-feiras, apenas 32,3% do trabalho foi feito de forma presencial em janeiro, dia de menor ocupação seguido de segunda-feira. Os escritórios estão mais cheios nas terças-feiras, com 59,6% de presença, segundo os dados da companhia.