Justiça

Bolsonaro e apoiadores esperam que novas investigações apontem se houve mandante da facada


A facada em Jair Bolsonaro, em 2018, na época candidato a presidente, segue mobilizando o cenário político brasileiro. Alvo de questionamentos pelo chefe do Executivo, com a troca do delegado responsável pelo inquérito, o caso deve tomar novos rumos.

Inquéritos

Bolsonaro foi esfaqueado quando cumpria agenda eleitoral em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro de 2018. O autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, foi preso em flagrante. O inquérito que apura o caso foi reaberto pela PF (Polícia Federal) no final de novembro de 2021. Um novo delegado assumirá as apurações para saber se Adélio Bispo de Oliveira teve ajuda ou recebeu ordens de outras pessoas. Os 2 primeiros inquéritos concluíram que ele agiu sozinho.

Bolsonaro e apoiadores falam na existência de um possível mandante, e associam o atentado a integrantes da esquerda, uma vez que Adélio era filiado ao partido de esquerda PSOl. A direção da legenda em Minas Gerais confirmou em 2018 a informação.

A saúde de Bolsonaro

As internações hospitalares de Bolsonaro desde o ataque contribuem para que o tema da facada volte à tona. Na última vez, no começo de 2022, o presidente ficou 2 dias internado em São Paulo por causa de uma obstrução intestinal.

Foi a segunda vez em menos de um 1 ano que Bolsonaro teve o mesmo diagnóstico. Em julho do ano passado, o presidente ficou internado por 5 dias pelo mesmo motivo. Uma futura intervenção cirúrgica não está descartada. O presidente já declarou ter uma “hérnia grande” do lado direito da barriga e que “talvez” precise incluir uma tela cirúrgica para tratar o problema.

Opositores do presidente questionam a existência da facada. Alguns propagam a tese da “fakeada” –referência à palavra “fake” (falso, em inglês). Na internet, a esquerda ainda propaga a ideia de que o atentado foi uma armação. O motivo: eleger Bolsonaro e tirá-lo dos debates presidenciais em 2018. Os adeptos dessa teoria indicam a ausência aparente de sangue no presidente após o golpe e a rápida assistência médica e policial.

Investigações

Ainda falta apurar os dados que a PF obteve com Zanone Manuel de Oliveira Júnior, o primeiro advogado que defendeu Adélio Bispo de Oliveira, em Juiz de Fora.

O delegado Martin Bottaro Purper será o responsável pelo caso a partir de agora. Com experiência em investigações de homicídios, ele já coordenou ações contra a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Responsável pelas duas apurações iniciais, o delegado Rodrigo Morais Fernandes foi transferido para uma função nos Estados Unidos.

Adélio foi absolvido do ataque contra Bolsonaro por ser considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos atos que praticou. Por isso, sua pena foi convertida em internação psiquiátrica por tempo indeterminado. Ele cumpre a sentença na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) desde 2018. O MPF e Bolsonaro não recorreram da decisão e o processo contra Adélio foi encerrado em julho de 2019.

Rumos das investigações

O delegado Rodrigo Morais Fernandes comandou 2 inquéritos que apuraram o ataque à faca contra Bolsonaro. O primeiro, encerrado no final de setembro de 2018, concluiu que a motivação do crime se deu por inconformismo político e que Adélio agiu sozinho no momento da facada. Eis os números da investigação: 4 celulares, 2 telefones, 1 laptop e diversos documentos apreendidos; foram realizados 3 interrogatórios e uma audiência de custódia; 40 pessoas foram entrevistadas em campo; 30 testemunhas ouvidas; duas buscas para apreensões cumpridas; 2 TB de imagens em computadores e celulares apreendidos e 600 documentos.

Segundo as investigações, Bispo estava desempregado e havia passado por 12 empregos em sete meses antes de ser preso, em nenhum deles permaneceu por mais de três meses. Foi encontrado  na pensão onde morava um cartão bancário internacional e dois outros de conta corrente e poupança.

Em um segundo inquérito, criado para aprofundar as investigações, a PF concluiu que Adélio agiu sozinho, por iniciativa própria, sem mandantes ou ajuda de terceiros. Segundo as autoridades, ele foi responsável tanto pelo planejamento do crime quanto por sua execução. A apuração foi encerrada em maio de 2020.

A PF não comprovou a participação de partidos políticos, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares em qualquer das fases do crime.

Nesse inquérito, foram analisados dados telefônicos para mapear conexões e contatos de Adélio, além de mensagens trocadas via aplicativos de mensagens. Extratos bancários e contas de e-mails também foram averiguadas, além de depoimentos.

As investigações provaram que o acusado teria saído de Florianópolis em direção a Juiz de Fora em 19 de agosto. Lá, conseguiu um emprego como garçom –função que exerceu por 4 dias. Ele ficou sabendo da ida de Bolsonaro pela imprensa e, a partir disso, iniciou o planejamento do crime. Em um dos celulares de Adélio Bispo, foram encontradas imagens de outdoors do candidato, com as datas em que Bolsonaro teria compromissos na cidade.

Ato falho de José Dirceu?

Durante uma entrevista no dia 11 de maio de 2021, ao canal do Youtube Tutameia TV, o ex-ministro da Casa Civil do governo petista, José Dirceu, disse sobre o atentado contra Bolsonaro que foi “um erro nosso” e o episódio teria tirado o partido do poder.

Questionamentos

Sem recursos financeiros para bancar os altos honorários dos seus advogados, isso ainda gera suspeitas de que  alguém esteja por trás dos pagamentos aos advogados de Bispo ou até mesmo seja o possível mandante do crime.

Os filhos e apoiadores do presidente Bolsonaro sempre questionaram quem seriam os mandantes do crime. O próprio presidente sugere a existência de outras pessoas envolvidas. Durante a live nas redes sociais no dia 6 de janeiro, Bolsonaro disse esperar novos desdobramentos da investigação. “Espero que esse processo agora com o novo delegado da PF realmente chegue ao final aqui em Brasília apontando os responsáveis pela tentativa de homicídio que eu sofri”, afirmou.

Ele também declarou que existe “risco de ser eliminado”, e vinculou o atentado que sofreu em 2018 ao “outro lado” da disputa eleitoral. “Agora, que existe o risco de eu ser eliminado isso existe. Você pode ver, em 2018, nós começamos a crescer e chegou um ponto que outro lado entendeu que a gente ia ganhar as eleições e aí tentaram me matar”, disse.

Na época do crime, houve contradições por parte da defesa de Adélio Bispo sobre quem estaria pagando os serviços de advocacia. Eles alegaram que haviam sido contratados por igrejas evangélicas frequentadas por Bispo em Montes Claros ou pessoas ligadas à elas, as informações foram negadas pelas igrejas.

Reabertura do inquérito

A apuração da facada foi reaberta em novembro pela PF.  O inquérito é o mesmo, já que não foi instaurado um novo procedimento. A decisão veio depois de a Justiça liberar a análise de dados de Zanone Manuel de Oliveira Júnior, advogado que defendeu Adélio na época do atentado.

O material foi obtido com aval da 3ª Vara de Juiz de Fora, que autorizou a quebra do sigilo bancário do defensor, e a apreensão do seu telefone, livros-caixa, recibos e comprovantes de pagamento de honorários. As buscas foram feitas em dezembro de 2018.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou com um recurso e o juiz Néviton Guedes, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), proibiu a quebra de sigilo e o acesso aos dados do advogado. Para o Tribunal, a quebra violaria a relação entre cliente e advogado. No começo de novembro de 2021, o TRF-1 derrubou a decisão anterior e determinou a reabertura do caso. A Corte atendeu a um pedido de Wassef, que representa o presidente.

A Justiça Federal de Juiz de Fora (MG), em 2018, já havia permitido a quebra do sigilo bancário, a apreensão do celular e de alguns documentos do advogado. Na época, a PF chegou a apreender alguns materiais, mas eles não foram usados nas investigações.

Martin Bottaro Purper agora substitui Fernandes, e já foi designado para o caso. Ele permanecerá lotado em Cascavel (PR), mas durante a investigação ficará em missão em Minas Gerais. O delegado dará continuidade analisará o material do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, para saber se Adélio agiu sozinho ou não no ataque a Bolsonaro. Com informações do Poder360.




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