Gasto com saúde empurra mais de meio bilhão de pessoas para a pobreza extrema no mundo
Mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo estão sendo levadas à pobreza extrema porque têm que pagar pelos serviços de saúde do próprio bolso. A informação consta de um relatórios divulgado no domingo passado (12) pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Banco Mundial, segundo o qual a pandemia de Covid-19 interrompeu duas décadas de progresso global rumo à cobertura universal de saúde.
Os dados foram apresentados no Dia Internacional de Cobertura de Saúde Universal, destacando o impacto devastador da Covid-19 na capacidade das pessoas de obter assistência médica e pagar por ela.
Segundo, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, com o terceiro ano da pandemia se aproximando rapidamente, “devemos fortalecer urgentemente nossos sistemas de saúde para garantir que sejam equitativos, resilientes e capazes de atender às necessidades de todos, inclusive para a saúde mental.”
Ele acrescentou que “as ondas de choque desta emergência de saúde estão atingindo com mais força os países que carecem de sistemas de saúde capazes de fornecer cuidados de qualidade a preços acessíveis para todos”.
Para que o mundo alcance a meta de uma cobertura universal de saúde até 2030, é necessário que haja um maior compromisso dos governos em investir e ampliar as soluções comprovadas. “Isso significa fazer maiores e mais inteligentes investimentos nas bases dos sistemas de saúde, com ênfase na atenção primária à saúde, serviços essenciais e populações marginalizadas”, disse Guterres.
O melhor seguro para economias e comunidades resilientes é fortalecer os sistemas de saúde antes que surjam crises. “A distribuição desigual de vacinas contra Covid-19 no ano passado foi uma falha moral global. Devemos aprender com essa experiência. A pandemia não vai acabar para nenhum país até que termine para todos os países ”, disse o chefe da ONU.
Em 2020, a pandemia interrompeu ou sobrecarregou os sistemas de saúde dos países. Como resultado, por exemplo, a cobertura vacinal caiu pela primeira vez em dez anos, e as mortes por tuberculose e malária aumentaram, disse o comunicado à imprensa da OMS e do Banco Mundial.
A pandemia também desencadeou a pior crise econômica desde os anos 1930, tornando cada vez mais difícil para as pessoas pagarem por cuidados de saúde que salvam vidas. Mesmo antes da pandemia, meio bilhão de pessoas estavam sendo empurradas (ou empurradas ainda mais) para a pobreza extrema por causa dos pagamentos que faziam pelos cuidados de saúde.
“Não há tempo a perder”, disse o chefe da OMS Tedros Ghebreyesus. “Todos os governos devem retomar e acelerar imediatamente os esforços para garantir que seus cidadãos tenham acesso aos serviços de saúde sem medo das consequências financeiras. Isso significa fortalecer os gastos públicos com saúde e apoio social, e aumentar seu foco nos sistemas de atenção primária à saúde que podem fornecer cuidados essenciais perto de casa.
Os novos relatórios da OMS e do Banco Mundial também alertam que as dificuldades financeiras provavelmente se tornarão mais intensas à medida que a pobreza aumenta, a renda diminui e os governos enfrentam restrições fiscais mais rígidas.
“Mesmo antes da pandemia, quase 1 bilhão de pessoas gastavam mais de 10% de seu orçamento familiar com saúde”, disse Juan Pablo Uribe, Diretor Global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial. “Isso não é aceitável, especialmente porque as pessoas mais pobres são as mais atingidas. Dentro de um espaço fiscal restrito, os governos terão que fazer escolhas difíceis para proteger e aumentar os orçamentos de saúde”, acrescentou.
Nas primeiras duas décadas deste século, muitos governos fizeram progressos na cobertura de serviços, disseram a OMS e o Banco Mundial.
Em 2019, antes da pandemia, 68% da população mundial estava coberta por serviços essenciais de saúde, como serviços de saúde reprodutiva; serviços de imunização; tratamento para HIV, TB e malária; e serviços para diagnosticar e tratar doenças não transmissíveis como câncer, doenças cardíacas e diabetes.
Mas eles não tornaram o atendimento mais acessível. “Como resultado, os grupos mais pobres e aqueles que vivem em áreas rurais são os menos capazes de obter serviços de saúde e menos propensos a lidar com as consequências de pagar por eles”.