Suzane Richthofen vai de ônibus da prisão à faculdade, já seu irmão sofre o peso do crime cometido pela irmã
Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão pela acusação de mandar matar os pais, tem sido vista usando o transporte público para ir e voltar da universidade em Taubaté, no interior de São Paulo, onde cursa biomedicina. O deslocamento já foi registrado por alunos e outros usuários dos ônibus, de acordo com a reportagem do G1.
Suzane cumpre pena em regime semiaberto na Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier. Em setembro, recebeu autorização para estudar fora da unidade. Ela recebeu autorização para deixar a penitenciária às 17h para ir à aula e tem que retornar ao presídio até 23h45. Atualmente, não precisa mais utilizar a tornozeleira eletrônica, uma vez que, segundo a decisão judicial, a presa já foi beneficiada por 24 saídas temporárias, sem registros de problemas com o retorno à unidade.
Suzane entrou para a faculdade após ser aprovada no Enem – ela está entre os 263 presos de presídios do Vale do Paraíba aceitos no exame nacional. Deixou o regime fechado em outubro de 2015 e, desde então, tem benefício a saídas temporárias. Ela também pode deixar o local para trabalhar, mas depende de autorização da Justiça.
Como está Andreas von Richthofen, outra vítima de Suzane
Diferente da irmã, que virou celebridade e teve um filme contando a história da menina de classe alta que matou os pais e pode cursar uma faculdade, Andreas Von Richthofen, de 29 anos, tem vivido um pesadelo, de acordo com a matéria publicada pela revista IstoÉ Gente, do dia 12 de maio deste ano. O rapaz havia sido detido por invadir um casa, foi encontrado sujo e sozinho, mostrando que não escapou do peso que seu sobrenome lhe impõe devido o crime cometido pela irmã. Estava com a roupa rasgada e tinha as pernas marcadas por escoriações e ferimentos. Carregava consigo uma caixa de joias dentro da qual havia uma medalha cunhada com o sobrenome von Richthofen.
Ele foi encaminhado para um hospital público na época, no mesmo dia o médico Miguel Abdalla, tio materno e tutor de Andreas até sua maioridade, foi à unidade para receber os pertences do sobrinho. Mas o rapaz havia sido transferido para a clínica São João de Deus, especializada na recuperação de usuários de drogas e conveniada com o SUS. Andreas chegou de ambulância e sem acompanhantes. Números de telefones de pessoas que seriam próximas foram acionados, mas ninguém atendeu. Andreas também não recebeu visitas nos primeiros dias na clínica.
Andreas vivia recluso desde o assassinato dos pais, muito para escapar dos olhares curiosos ou até mesmo recriminatórios. “As pessoas questionavam se ele tinha alguma participação no crime”, conta o advogado Roberto Tardelli, responsável pela acusação criminal de Suzane. “Ele foi a grande vítima e sobrevivente do crime.” Na adolescência, ao contrário da maioria dos jovens, o irmão de Suzane não era adepto de redes sociais e dispensava baladas.
De acordo com a reportagem, o único herdeiro da família, Andreas se concentrou numa carreira acadêmica promissora: pulou da graduação em Farmácia diretamente para o doutorado em Química na Universidade de São Paulo (USP). Uma rápida conversa com quem conviveu com ele nos tempos de estudo revela uma pessoa de inteligência excepcional, afável e educado. “Além de extremamente inteligente, sempre foi atencioso, respeitoso e gentil”, diz uma professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e orientadora de Andreas em seu trabalho de conclusão de curso. “Ele apresentava um enorme potencial de pesquisador e, depois do seu doutorado, pensei que estivesse fora do País em algum centro de pesquisa.” O professor Claudio di Vitta, que o orientou no doutorado, também fez elogios ao ex-aluno. “A relação dele comigo e com todos era absolutamente normal”, afirma.
De sua saída da USP, em 2015, até hoje, não há uma linha clara da trajetória de Andreas. Na única vez em que fez uma declaração pública sobre sua história, há dois anos, Andreas afirmou que planejava deixar o Brasil por causa do peso do sobrenome. Manifestou esse desejo também em uma das últimas conversas com o advogado Tardelli. Contou, inclusive, que havia recebido convites para estudar no Exterior. A tragédia do rapaz encontrado sujo e em surto, agarrado a um símbolo do mesmo sobrenome do qual queria se livrar, demonstra, infelizmente, que a tristeza de Andreas parece não ter um fim.