Diretor-geral da OMS diz a Bolsonaro que faltam dados sobre segurança de vacinas para crianças
O presidente Jair Bolsonaro se reuniu ontem (31) com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em Roma, na Itália, e durante a conversa abordou sobre a vacinação, passaporte da vacina e medidas de contenção contra a Covid-19 no Brasil. O presidente publicou um vídeo com trechos do encontro em suas redes sociais.
Bolsonaro, que participava da Cúpula do G20, onde se reuniram os líderes dos países mais ricos do mundo, questionou a posição da organização sobre o lockdown, ressaltou que não se vacinou e afirmou que a OMS deveria emitir uma nota afirmando ser contrária à vacinação de crianças.
Tedros reafirmou que a OMS não indica a vacinação de crianças, no momento, por falta de dados de segurança.
Na página na internet da OMS o órgão afirma que “mais evidências são necessárias sobre o uso das diferentes vacinas contra Covid-19 em crianças para poder fazer recomendações gerais sobre a vacinação de crianças contra Covid-19”.
Durante a conversa com Bolsonaro, Tedros disse que por enquanto, com os dados que dispomos no momento, os dados não indicam que crianças devam ser vacinadas. ”Precisamos de dados sobretudo sobre a segurança da vacina. Mas há estudos em andamento no momento (…) Quando os dados estiverem prontos e concluídos, é claro que podemos emitir uma nota sobre isso”, disse.
Bolsonaro disse a Tedros que no Brasil “tem governador e prefeito exigindo a vacinação de crianças”. Tedros respondeu: “É importante seguir a Ciência, mas compartilharemos com o Brasil assim que tivermos mais dados”.
Bolsonaro insistiu no assunto e sugeriu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que participava da conversa, que ele faça um comunicado a respeito. “Nós temos que ter uma nota neste sentido dizendo que a OMS não recomenda vacina para crianças porque tem prefeito e governador que receberam poder do judiciário para decidir”, disse Bolsonaro.
O presidente brasileiro questionou Queiroga sobre o assunto, mas o ministro foi interrompido pelo próprio presidente ao tentar explicar tecnicamente a questão. Bolsonaro disse que “tem que ter uma nota sua baseada na OMS”, e Queiroga responde: “Com certeza”.
Apesar da recomendação da OMS para aguardar mais estudos, o FDA (Food and Drug Administration, a agência do Departamento Federal de Saúde dos Estados Unidos) autorizou a vacinação contra Covid-19 em crianças de cinco a 11 anos nos Estados Unidos.
A decisão veio dias depois que um comitê consultivo da agência revisou os dados de um ensaio clínico testando uma versão de baixa dosagem da vacina Pfizer-BioNTech em crianças nessa faixa etária — e votou quase unanimemente para recomendar que o FDA conceda a aprovação de emergência.
O CDC, a agência reguladora de medicamentos e vacinas dos EUA, também deve aprovar a aplicação das doses nesta faixa etária no país. O Comitê Consultivo em Práticas de Imunização, do CDC, se reunirá na terça-feira (2) para discutir uma recomendação para essa faixa etária.
Durante a conversa, Bolsonaro enfatizou ao diretor-geral da OMS que não se vacinou, e disse que o Brasil produziu vacinas suficientes para quem quisesse se vacinar.
“O Brasil já produziu mais de 320 milhões de vacinas. Praticamente, só não tomou quem não quis. Eu respeito quem não quer tomar vacina”, diz apontando para si mesmo.
Bolsonaro questionou também sobre o passaporte da vacina, se dizendo contra a medida. Tedros afirmou que a OMS não é favorável à obrigatoriedade, considerando que a medida pode soar discriminatória em países com baixas taxas de imunização.
“Por enquanto ainda não estamos recomendando [o passaporte da vacina] porque a taxa de vacinação em vários países está baixa. Então, quando o acesso à vacinação é baixo, ter o certificado poderia ser discriminação. Na África, por exemplo, só tem 5% da taxa atual de vacinação”, afirmou Tedros.
Bolsonaro também questionou Tedros sobre lockdown, ressaltando que foi contra a medida no Brasil, por questões econômicas.
O diretor da OMS respondeu dizendo que “o acesso ao campo de vacinação no Brasil está bem avançado e se o Brasil continuar trabalhando com as medidas públicas como máscaras, distanciamento social não há necessidade do lockdown realmente. Se houver um lockdown, pode ser que ele seja muito localizado, em uma área de altíssimo risco. Mas depende da avaliação de risco. Certamente não seria o caso de todo o país”, afirmou.