Reportagem da ISTOÉ denuncia mordomias da atual presidente do PTB com dinheiro público
Uma reportagem da revista ISTOÉ, divulgada nesta sexta-feira (15) na versão impressa, mostra que o PTB, um dos alvos centrais do inquérito das milícias digitais que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) se transformou em uma máquina de malfeitos. De acordo com a revista, o partido é investigado por usar dinheiro público para fazer ataques ao Judiciário e ao Congresso, mediante fake news, e também é acusado na Justiça de ter desviado boa parte do que recebe do Fundo Partidário (R$ 18,7 milhões em 2020) para custear as regalias da atual presidente da legenda, Graciela Nienov, que assumiu o cargo desde que Roberto Jefferson deixou a presidência após ter sido preso, em agosto.
Documentos obtidos pela ISTOÉ revelam que a dirigente da sigla leva uma vida de alto padrão bancada pelo partido, com direito a um salário de quase R$ 30 mil por mês e almoços de marajá. Até o aluguel da mansão onde ela mora, com cinco suítes e piscina com hidromassagem, no valor de R$ 12.900, é pago com dinheiro público, recursos da União transferidos à organização. O tratamento contra obesidade feito por ela, que levou à redução do estômago (cirurgia bariátrica), com nota fiscal emitida em nome do PTB Mulher, ao preço de R$ 122,2 mil, também está na conta daquilo que os cidadãos brasileiros pagam em impostos e que depois acabam irrigando o caixa das legendas partidárias inescrupulosas, como é o caso do PTB.
Os gastos de Graciela em nome da legenda são escandalosos. O PTB utilizou dinheiro público para pagar os aluguéis das moradias da petebista. Natural de Santa Catarina, a dirigente vivia num flat alugado na Asa Norte, cujo aluguel custava R$ 3,5 mil mensais ao partido. Hoje, ela reside em uma mansão localizada em um dos “condomínios mais nobres de Brasília”, segundo anúncio do imóvel que a presidente do PTB alugou no dia 10 de outubro de 2021. “Casa espetacular de altíssimo padrão, com 412 m² e 5 suítes, repleta de armários, com área gourmet, piscina aquecida com hidromassagem, ar condicionado em todos os quartos e na sala. Acabamentos primorosos e garagem para 4 carros”, diz o anúncio da imobiliária que alugou o luxuoso imóvel para servir à nova mandatária e que fica no condomínio “Le Jardin”, no Setor Tororo do Distrito Federal. “Com casas de alto padrão, segurança 24h e diversas comodidades”, continua o texto, o aluguel da casa é de R$ 12,9 mil. Tudo, claro, custeado com dinheiro público do fundo partidário, segundo investigações da PF e que já estão também no STF (Supremo Tribunal Federal).
As mordomias, segundo a matéria, de Graciela que diz nos bastidores ser “filha postiça” do presidente licenciado, e atualmente está detido do Presídio de Bangu 8, não param por aí. Documentos apreendidos na tesouraria do PTB sugerem que Graciela teria desviado mais de R$ 122 mil dos recursos do Fundo Partidário para realizar um procedimento cirúrgico para tratar a obesidade. Segundo pessoas próximas a ela, a cirurgia teria sido feita para a colocação de um balão intragástrico em seu estômago, o que permitiria o emagrecimento de forma mais rápida.
O pagamento foi feito com recursos do PTB Mulher, e o dinheiro foi enviado para a secretária nacional de comunicação do partido, Rafaela Armani Duarte, conforme demonstram os documentos. Funcionários do partido dizem, contudo, que o objetivo foi o de burlar a fiscalização, já que o pagamento de serviços à secretária teria sido feito “para dar início” ao procedimento médico. A operação, feita em dezembro de 2020, teria sido paga em duas vezes, de acordo com a denúncia encaminhada à PF: uma parcela de R$ 100 mil e outra de R$ 22.200.
Segundo apuração da reportagem da ISTOÉ, os repasses ocorreram em dezembro por ser um período em que as despesas da organização partidária são menores e não chamam tanta atenção. Colegas confirmam que Graciela comunicou aos amigos que faria o procedimento médico no início de dezembro, exatamente no mesmo período em que ocorreu a transferência para Rafaela Armani. Sua empresa, a “Prestige Assessoria e Marketing”, também é investigada pelo STF por suspeitas de ter sido usada para a produção dos conteúdos que visavam atacar os ministros da Corte e integrantes do Poder Legislativo.
Essa foi, inclusive, a causa da prisão de Jefferson. O ministro Alexandre de Moraes já determinou, inclusive, que a empresária forneça documentos que comprovem os serviços prestados pela agência ao PTB. Líderes importantes da legenda confidenciaram à reportagem que o partido já gastou mais de R$ 1,1 milhão em serviços de postagens em sites e páginas na internet com ataques a outras instituições, principalmente no período entre janeiro e agosto de 2021. Todas essas informações já foram apresentadas por petebistas ao STF. Procurada, a presidência do PTB negou as denúncias e atribuiu as informações “à narrativa de filiados que buscam desestabilizar o partido”. E as benesses denunciadas à PF não param por aí. Uma nota fiscal de dezembro de 2020, quando Graciela ainda era somente a vice-presidente nacional, mostra que o PTB usou dinheiro público para pagar almoço de R$ 1.358.08 em um restaurante na orla de Ilhéus, na Bahia. Dois meses antes, Graciela também autorizou a compra de um computador por mais de R$ 10 mil para uso exclusivo da presidência do PTB. As suspeitas são de que isso tenha sido feito de caso pensado, porque, hoje, quem faz uso desse equipamento é a própria “filha postiça” de Jefferson. Fora os privilégios, ela ainda recebe um salário via Fundo Partidário no valor de R$ 27.000, dinheiro que também é bancado pelos cofres públicos.
A relação de confiança entre Roberto Jefferson e Graciela é tão forte que ele apoiou a decisão de expulsar da legenda a própria filha, Cristiane Brasil. A ex-deputada, porém, já avisou aos seus interlocutores no partido que não vai se conformar com a decisão. “O PTB é da minha família há gerações”, disse Cristiane. Ela afirmou que o pai estava com problemas mentais ao deixar Graciela na presidência. “É com profundo pesar que afirmo: meu pai não está bem da cabeça”, acusou em suas redes sociais, ao comentar o poder da adversária. O certo é que o PTB, fundado em 1945, vive hoje uma das maiores crises morais e éticas da história, segundo contaram alguns funcionários.