“O bicho da toga preta”: Daniel Silveira e a filha Thabata
A prisão do deputado Federal Daniel Silveira, realizada da noite do dia 16 para a madrugada do 17 de fevereiro, teve como base informações contidas em vídeo feito por Silveira com críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Se há versões criadas, outras histórias deixaram de ser contadas daquela madrugada até hoje. São relatos que remetem ao cenário de destruição de um lar, do café da manhã interrompido, da premonição de um sonho infantil.
Era, ainda, madrugada, quando a pequena Thabata, filha de cinco anos de Silveira, acorda assustada e pergunta pelo pai.
Ela, que poucas vezes acordava de madrugada, sem histórico de pesadelos, disse que gostaria de falar de um sonho, que havia tido com o pai.
Não, naquele dia, o pai sempre presente, não entregaria o aconchego que a filha precisava. Daniel Silveira estava detido na sede da Polícia Federal (PF) naquele exato momento.
Entre soluços, Thabata afirmava para a mãe, que “não tinha conseguido salvar papai da boca do leão”, que “ele precisava de ajuda”.
Sim, seguramente, o deputado Daniel Silveira estava na boca de um leão, enquanto outros,
esses do Legislativo, não se dignaram a resgatar nem mesmo a honra daquela corte.
Não, aqui, não é o caso de defender as durezas de tudo que o deputado Daniel profere naquele vídeo. Discute-se, sim, as prerrogativas de um parlamentar, o direito à palavra, a não interferência entre poderes. Aliás, uma agressão, considerando os princípios deixados pelo pai da questão, Montesquieu, autor de O Espírito das Leis.
Sim, o caput do artigo 53 da Constituição é claro, sem atalhos ou interpretações: “Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. O fato de ser uma prisão pautada em opinião de um parlamentar já faz dela uma aberração jurídica.
Naquele dia, como em muitos outros até hoje, o parlamentar não pôde acalmar a filha de cinco anos. Daniel Silveira, também, não tem acolhido e consolado a mãe, depressiva pela morte do filho caçula e do padrasto, assim como a própria mulher, que chora todos os dias.
Outras, novas e marcantes histórias precisam ser contadas depois do fatídico 16 de fevereiro.
Dona Matilde Silveira, a mineira da cidade de Mercês, mãe do deputado, tem visitado o parlamentar, diariamente, no cárcere. Ela relata a última da neta, fato que ocorreu há uma semana e levou o filho Daniel às lágrimas.
Estavam, dona Matilde e Thabata no quintal. Era noite, o céu estava tomado de muitas estrelas, quando de pronto, ao mirar para o infinito, a pequena pede à maior das estrelas, “que devolvesse o pai porque a vida não tem graça sem ele, tudo fica sem cor”.
Pequena Thabata, a aquarela de cores que envolve teu mundo infantil logo devolverá o colorido do café da manhã com a presença do papai.
Logo, como que numa mágica, ele estará lá no trabalho dele, falando forte da injustiça pela qual passou e das mudanças que este país precisam passar.
Fique em paz, enquanto papai não pode voltar, continue a conversar com os anjos nos teus sonhos e não deixe que o “bicho da toga preta” tire o colorido da tua aquarela, nem a paz do teu sono.
Carlos Gomes
(Jornalista)