Damares repassa R$ 200 mil para ONG fantasma presidida por servidora do próprio Ministério
Um esquema de repasse de recursos a ONGs fantasmas comandado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves manchou pela primeira vez o governo Jair Bolsonaro com atos de corrupção. Após 900 dias sem nenhuma mancha no governo, a Revista Crusoé apresentou documentos que compravam que uma assessora especial do Ministério de Damares, operava recursos para ONG presidida por ela própria. A servidora Helieth Dolores Pereira Duarte, ligada a Secretária da Mulher Cristiane Brito e a Secretária Executiva do Ministério, Tatiana Alvarenga, operou um esquema de R$ 200 mil para sua própria organização com endereço fantasma em Brasília.
De acordo com a reportagem do jornalista investigativo Patrick Comporez, uma das ONGs beneficiadas é a Associação Beneficente Ensine Mão Amiga – ironicamente, o nome já diz tudo. No mês passado, a Mão Amiga recebeu em sua conta 200 mil reais da Secretaria Nacional de Política para as Mulheres, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A presidente da ONG é Helieth Dolores Pereira Duarte. Nesse caso, uma mão amiga lavou a outra. É que Helieth era até o início do mês assessora especial da própria ministra Damares Alves e coordenadora-geral de Gestão da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Crusoé foi até o endereço da suposta entidade e não encontrou, no local informado pelo portal da Transparência do governo, qualquer sinal de funcionamento da ONG. No telefone registrado em nome da Mão Amiga, atendeu uma pessoa que disse desconhecer a existência da organização.
Helieth era uma das principais assessoras de Damares. Nos eventos dentro e fora do ministério, ela era conhecida por, não raro, ciceronear a ministra. Mas, quando foi informada sobre as apurações da reportagem de Crusoé, Damares preferiu se livrar da encrenca, sem dizer que se tratava de uma encrenca, provavelmente para não criar problemas com a servidora defenestrada – vai que ela resolve contar o que sabe. Essa, inclusive, é uma tática que o leitor acostumado com os escândalos do poder conhece bem.
No dia 5 de julho, uma portaria assinada pela ministra comunicou a exoneração da funcionária “por motivações técnicas”. Só nesta terça-feira, 20, de novo provocada pela reportagem de Crusoé, a assessoria de Damares informou que, diante “dos novos fatos, o ministério vai abrir procedimento apuratório para, se for o caso, tomar as medidas cabíveis”. O dinheiro, no entanto, uma indicação de emenda parlamentar do deputado bolsonarista Vitor Hugo, do PSL, segue na conta da ONG.