‘Me sinto agredida e em um tribunal de exceção’, diz Nise Yamaguchi à senador
A CPI da COVID se transformou em um circo de horrores onde o depoente precisa falar o que o colegiado quer, ou aguentar o ódio sendo destilado gratuitamente, especialmente se quem estiver depondo “no banco dos réus” for mulher. Foi assim com a Dra. Mayra Pinheiro, que foi massacrada com acusações, falas distorcidas e cortadas.
Nesta terça-feira (1º), o espetáculo se repetiu contra a renomada Dra. Nise Yamaguchi. Desde o início da sessão a médica manteve sua postura em defender o tratamento precoce ao informar à seu leigo público presente que a Hidroxicloroquina não impede a contaminação, mas não permite que a infecção causada pela COVID evolua e leve o paciente à UTI. Ela também negou, por várias vezes, a existência do “gabinete paralelo” levantado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
“Não participo de nenhum gabinete paralelo. Acredito que o governo é um só. As minhas conversas que ocorrem, com relação à parte técnica do Ministério da Saúde, sempre foram feitas dentro de um ambiente técnico. Na realidade, sempre fui muito bem recebida por todos os governos com quem estive colaborando”, explicou a médica.
Entre incontáveis ataques, o presidente da Comissão, Omar Aziz chegou a afirmar que a voz calma da médica convence as pessoas, mas que não deveriam acreditar nela.
Yamaguchi ainda confirmou a perseguição política contra o tratamento precoce.
“Houve conspiração política, sim. Houve múltiplas ações contra o tratamento precoce no Brasil, várias Procuradorias entraram com ações contra Prefeituras que queriam fazer o tratamento precoce. Houve a perseguição de médicos que prescreviam o medicamento, desrespeitando a autonomia dos médicos”, declarou Nise.
Ela foi duramente confrontada sobre a mudança na bula da cloroquina pelo relator Renan Calheiros.
“Não fiz nenhuma minuta, inclusive, não conhecia esse papel. Depois da reunião [que ocorreu no Palácio do Planalto no dia 6 de abril de 2020], descobri que estavam se referindo a uma minuta”, afirmou a médica.
Após incessantes ataques e desqualificações de sua capacidade médica e intelectual, a Dra. Yamagushi em um quase desabafo afirmou ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) que se sente “agredida” pela postura dos senadores. Desde o início da sessão, os parlamentares afirmam que a médica integra um gabinete paralelo de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro.
“Eu tenho que colocar meu repúdio a situação que estou colocada ali, em um gabinete de exceção. Estou me sentindo aqui bastante agredida neste sentido porque eu estou como colaboradora eventual de várias ações de uma relação direta com a situação clínica dos nossos pacientes e eu gostaria de ter, portanto, senador, a necessária avaliação dessa posição. Estou sendo colocada em xeque com relação às minhas condutas médicas”, declarou Nise.
Nesta CPI, os depoentes querem arrancar inverdades dos depoentes. É uma Comissão estéria, infrutífera, cansativa, repetitiva, agressiva. A falta de comprovação de teses levantadas pelo colegiado, o ataque, o constrangimento ilegal, o machismo, o abuso de autoridade e da arrogância. Um senador querer ensinar uma médica com 40 anos de experiência e fazer perguntas ridículas que em nada acrescenta ao processo investigativo.